terça-feira, 13 de outubro de 2015

PIQUE ESCONDE - JOEL GARCIA DA COSTA

PIQUE ESCONDE


O homem alto seguia pela rua movimentada, levando um pequeno garoto pela mão.
Havia um contraste entre o homem de terno e o menino com uma camiseta cavada, pareciam não combinar, um saindo para o trabalho, outro para o lazer, mas pensando bem nos dias de hoje isso era bem natural.
Ao se afastarem da avenida principal para um local mais ermo, o homem pareceu encontrar o que procurava, dizendo para o garoto:
-- É ali filho!
Entraram num terreno cercado por tábuas lascadas, que antigamente deveria servir de abrigo (ou ainda servia) para moradores de rua, devido o lixo amontoado nos cantos. Somente uma pequena área coberta existia, de uns dois metros quadrados, com um telhado cheio de falhas apoiado sobre dois sarrafos de madeira.
-- Vamos brincar então? – O homem disse lá do alto e menino abaixo sorriu e correu de encontro à cobertura de madeira, tapando os olhos enquanto gritava: -- Vou contar até vinte!
Depois de contar, antes de tirar as mãozinhas do rosto, perguntou:
-- Posso ir?
Nenhuma resposta, somente o silêncio quebrado pelo som de carros no asfalto.
-- Posso ir? – Repetiu enquanto se virava sorrindo.
Começou a vasculhar o local, mas não havia muitos lugares onde alguém tão alto quanto seu pai pudesse se esconder e depois de algum tempo, sem êxito em sua busca, um receio começou a tomar conta do menino.
-- Papai pode sair!
Nenhuma resposta se ouviu.
-- Papai onde você está?
Já havia uma pequena lágrima rolando pelo seu rosto quando alcançou a rua, mas pelo canto desse próprio olho agora molhado notou um movimento e quando pensou em correr já era tarde.
Seu pai já alcançara o local onde antes o menino tapara o rosto, ainda com alguns sacos de lixo preto vazios sobre a cabeça, soltando uma gargalhada contagiante.
-- Caxetinha um, dois, três! Peguei você!

O garoto voou correndo para os braços abertos do pai, com um sorriso coroando seu rosto que se afundou no peito do homem que também sorria feliz, agradecido que estava pela greve do banco.


Joel Garcia da Costa

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