sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

ESPERANÇAS E A AURORA DA VIDA - SOLANGE VICENTINO T. MOSSENBOCK

ESPERANÇAS E A AURORA DA VIDA




Disseram-me que usava óculos, é tudo que sei. Mais nada. Ela deixou-me aqui na porta eu era um bebê embrulhado em panos nem registro de nascimento eu tinha.
Há dezessete anos fui recolhida pelas freiras e assim ficou minha data de aniversário, não é exatamente esta, que parecia que eu tinha uns dez dias de idade, disseram-me elas.
Ninguém quis ficar comigo, não conseguiram minha adoção. Ninguém quer crianças negras. Na verdade, aqui na Casa existem poucas crianças brancas, elas conseguem sair, mesmo as feinhas e sem graças. Difícil é com as meninas negras de cabelo pixaim e duros que não temos shampoo nem qualquer outro luxo. Somos pobres. Temos de economizar por que a cada dia chegam mais meninas.
O que eu quero de presente, perguntou-me a mocinha que eu apadrinhava naquele Natal.
Ah! Queria ganhar uma roupa bonita, creme para os cabelos e um brinco, mas não tenho orelhas furadas. É outro luxo para as crianças da Casa.
Não posso dizer que sou infeliz aqui, disse-me ela com muita delicadeza. As freiras são bravas, mas ao mesmo tempo são pacientes por que aqui as crianças têm muitas dificuldades.
Nós maiores ajudamos em tudo, é nossa obrigação e aprendizagem dizem as freiras, por que aos dezoito anos vamos sair para enfrentar o mundo.
Falta pouco para eu sair e tenho medo. Ao mesmo tempo, junto com ele tenho a esperança de que lá fora vou encontrar minha mãe, ela vai me abraçar e beijar como nunca fui amada. Vou prestar atenção em cada mulher negra que usa óculos, vou olhar seu rosto, estudar se parece comigo e vou perguntar:
-A senhora deixou um bebê na porta da Casa Nossa Senhora Menina? Sou eu. Meu nome é Aurora e sempre tive esperanças de olhar seu rosto e sorrir de felicidades. Eu quero dormir no seu peito, sentir seu cheiro de mãe, ouvir sua voz contando histórias para me fazer dormir. Quero ser sua filha mesmo que seja tão tarde.


Solange Vicentino T. Mossenbock

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