MEU ÓCIO CRIATIVO
VOLUNTÁRIO
Miguel Evangelista Régis
(15/07/2017)
No
meio da década de noventa, exatamente em 1995, o professor e sociólogo italiano
Domenico de Masi publicou o livro “O Ócio Criativo” em que analisa a questão do ócio criativo numa
sociedade pós-industrial. Segundo
ele o futuro do trabalho estava marcado pela união entre estudo
e lazer. O que ele diz: “Existe um ócio alienante, que
nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também um outro ócio, que nos faz
sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as
ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade.”
O
que este assunto sobre ócio tem a ver com uma pessoa aposentada?
Tem
tudo a ver, sim, pois, estar aposentado não significa simplesmente estar ocioso,
ou seja, não ter nenhuma ocupação, não fazer nada na
vida. E ocioso no
sentido pejorativo pode significar o indivíduo preguiçoso, indolente, que não
procura trabalho. Não é o caso do aposentado que continua desempenhando um trabalho
qualquer, remunerado ou não.
O aposentado, ou o idoso, passa a construir uma nova identidade com um novo
trabalho que escolheu fazer e que se confunde com o ócio criativo na medida em
que sente prazer no que faz, depois de uma longa experiência adquirida pelos trabalhos
anteriores e pelos estudos. Com uma diferença fundamental, agora não precisa
trabalhar tanto para ter mais, mas para ser feliz naquilo que escolheu fazer.
Claro que isto não acontece com a maioria das pessoas idosas, infelizmente, que não usufruem do trabalho como ócio
criativo porque continuam trabalhando até com mais intensidade para
complementar o salário de uma aposentadoria que mal atende suas necessidades
básicas e que, ainda por cima, precisa
ajudar parentes que estão em dificuldades financeiras.
No
meu caso, entre tentativas, como se diz na gíria, de ganhar dinheiro, exerci
algumas profissões que não atendiam as minhas necessidades básicas e da família
que estava construindo até que fui aprovado em concurso público para exercer as
funções de professor de língua portuguesa. Foi um trabalho estafante em alguns
momentos, e sem saber, estava vivendo meu ócio criativo, porque mesmo com
desafios próprios da profissão, me sentia motivado e plenamente realizado pelo
que fazia com e pelos meus alunos.
Estou
aposentado há alguns anos e às vésperas de entrar na turma dos setenta. O que
ainda posso fazer por mim e pela sociedade? Eu me pergunto.
Tenho
uma convicção desde que li o livro “O
Ócio Criativo” em 2009, o de não ser um “ocioso alienado”, de mente vazia e de
pensamentos inúteis e improdutivos. Usufruí ao máximo que pude de meu trabalho
como educador na produção e execução de ideias relacionadas à minha área de
atuação social.
Enfrentei
ultimamente um novo desafio, entre tantos: pesquisar em vários livros didáticos
e não didáticos a língua francesa, uma verdadeira paixão que curto desde a
mocidade, época em que cursava francês também como ócio criativo sem saber da
noção dada por de Masi. E deu tão certo
que criei um manual de francês com o título Cours
de Français Interactif que apresentei ao Fundo Social de Solidariedade da
Prefeitura de Itatiba que me autorizou a desempenhar um trabalho voluntário
como professor de francês.
Ministrei
o curso de Francês Iniciante no Centro de Capacitação e no dia 11 de junho do
corrente ano tive a felicidade de entregar dezoito certificados aos alunos que acreditaram
no meu “ócio criativo voluntário” no Teatro Ralino Zamboto juntamente com as
autoridades presentes.
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