domingo, 23 de julho de 2017

texto do Sr. Miguel Evangelista sobre tema FÉRIAS

MEU ÓCIO CRIATIVO VOLUNTÁRIO
Miguel Evangelista Régis (15/07/2017)
            No meio da década de noventa, exatamente em 1995, o professor e sociólogo italiano  Domenico de Masi  publicou o livro “O Ócio Criativo”  em que analisa a questão do ócio criativo numa sociedade pós-industrial. Segundo ele  o futuro do trabalho estava marcado pela união entre estudo e lazer.   O que ele diz: “Existe um ócio alienante, que nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também um outro ócio, que nos faz sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as ideias  são necessárias  ao desenvolvimento da sociedade.”
            O que este assunto sobre ócio tem a ver com uma pessoa aposentada?
            Tem tudo a ver, sim, pois, estar aposentado não significa simplesmente estar ocioso, ou seja, não ter  nenhuma ocupação, não fazer nada na vida. E ocioso no sentido pejorativo pode significar o  indivíduo preguiçoso, indolente, que não procura trabalho. Não é o caso do  aposentado que continua desempenhando um trabalho qualquer, remunerado ou não. 
            O aposentado, ou o idoso,  passa a construir uma nova identidade com um novo trabalho que escolheu fazer e que se confunde com o ócio criativo na medida em que sente prazer no que faz, depois de uma longa experiência adquirida pelos trabalhos anteriores e pelos estudos. Com uma diferença fundamental, agora não precisa trabalhar tanto para ter mais, mas para ser feliz naquilo que escolheu fazer. Claro que isto não acontece com a maioria das pessoas idosas, infelizmente,  que não usufruem do trabalho como ócio criativo porque continuam trabalhando até com mais intensidade para complementar o salário de uma aposentadoria que mal atende suas necessidades básicas e que, ainda por cima,  precisa ajudar parentes que estão em dificuldades financeiras.
            No meu caso, entre tentativas, como se diz na gíria, de ganhar dinheiro, exerci algumas profissões que não atendiam as minhas necessidades básicas e da família que estava construindo até que fui aprovado em concurso público para exercer as funções de professor de língua portuguesa. Foi um trabalho estafante em alguns momentos, e sem saber, estava vivendo meu ócio criativo, porque mesmo com desafios próprios da profissão, me sentia motivado e plenamente realizado pelo que fazia com e pelos meus  alunos.
            Estou aposentado há alguns anos e às vésperas de entrar na turma dos setenta. O que ainda posso fazer por mim e pela sociedade? Eu me pergunto.
            Tenho uma convicção desde que li o livro  “O Ócio Criativo” em 2009, o de não ser um “ocioso alienado”, de mente vazia e de pensamentos inúteis e improdutivos. Usufruí ao máximo que pude de meu trabalho como educador na produção e execução de ideias relacionadas à minha área de atuação social.
            Enfrentei ultimamente um novo desafio, entre tantos: pesquisar em vários livros didáticos e não didáticos a língua francesa, uma verdadeira paixão que curto desde a mocidade, época em que cursava francês também como ócio criativo sem saber da noção dada por de Masi.  E deu tão certo que criei um manual de francês com o título Cours de Français Interactif que apresentei ao Fundo Social de Solidariedade da Prefeitura de Itatiba que me autorizou a desempenhar um trabalho voluntário como professor de francês.

            Ministrei o curso de Francês Iniciante no Centro de Capacitação e no dia 11 de junho do corrente ano tive a felicidade de entregar dezoito certificados aos alunos que acreditaram no meu “ócio criativo voluntário” no Teatro Ralino Zamboto juntamente com as autoridades presentes.

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