terça-feira, 22 de setembro de 2015

PRIMAVERA - VERA LÚCIA DE ANGELIS

PRIMAVERA 

                               
A neve se dissolveu e a cigarra Milena foi a primeira a sair do seu esconderijo. Não aguentava mais a rabugice da formiga reclamando o inverno todo por ter que alimentá-la, já que a cigarra, no outono, deixou de armazenar comida para cantar.
Mas agora tudo ficou mais fácil com a luz do sol mais duradoura aquecendo suas asas e alimento farto.
Como a vida é boa, pensava. Deveria ser sempre primavera.
E voava com toda energia que a nova estação lhe causava.
Lá do alto via a formiga reiniciando seu eterno trabalho de colher folhas para armazenar:
- Não aproveita a vida, só trabalha - estranhava ela.
-É a sina de cada um - explicava a formiga resignada.
Viver o presente é o que importa - argumentava a artista cigarra.
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Como numa fábula lá vai a cigarra voando ao sol depois de dias esperando o tempo melhorar.
É primavera dizem as amoras, pitangas e jabuticabas forrando os troncos de suas árvores.
Horas a mais de sol para aquecer o dia e as penas de alguns pássaros mais coloridas do que sempre. Com o aquecimento da água, até as escamas dos peixes se tornam mais coloridas e atraentes para o ritual do amor.
Com o clima da primavera, mais alimentos e mais energia para as fêmeas darem vida a outros seres. Por isso os bichos se multiplicam mais nessa época.
Lá vem o sagui fêmea de barriga saliente se espichando no tronco da primavera branca. Daqui a uns tempos carregará nas costas 2 ou 3 filhotes curiosos e de olhares espertos assuntando o mundo.










Ninhos escondidos como tesouros onde talvez nenhum predador ache para que os ovos possam ser chocados e transformados em novos pássaros.
Uma pombinha espelho já nasceu e fica na terra alimentando-se das sobras das sementes que os adultos saboreiam num comedouro acima de sua cabeça.
Com o aumento da luz e da temperatura é maior a incidência de flores desabrochando nesta época. E o que já era lindo agora é simplesmente divino.


Nem parece novidade num quintal onde ano inteiro desfilam flores, afinal cada espécie tem o seu tempo de criar suas belezas. Fosse só na primavera o que seria do tempo sem elas?










Seria muito triste e vazio. Não importa se há cigarras brigando com formigas.
Se é na realidade dos homens que há cobranças e ressentimentos.

O vento, que ajuda a espalhar sementes e a distribuir esse ar quente que já inspira lembranças do fim do ano, alivia a nossa alma descompensada e estressada de ser humano.
Que venham as novas criaturas e a felicidade merecida para todos, pois a natureza não discrimina, apenas devolve o que cultivamos com amor.










Vamos então aproveitar a estação das flores com suas cores mais vibrantes e com as frutas doces  que explodirão na boca das pessoas que mais amo e que poderei reverenciar oferecendo-lhes frutos primaveris do meu quintal.
Que sejam bem vindos também no meu coração.
Que se deliciem e aprendam o caminho dos frutos e todo o trabalho que as árvores têm para produzi-lo. Que respeitem tanto a beleza quanto a decência da natureza que nada pede em troca a não ser luz, umidade e sossego para poder cumprir o seu papel.
  

                        Setembro 2015                                   Vera Lúcia de Angelis

Um comentário:

  1. É de muito talento! Muito criativa, texto lindo mas uma vez Parabéns pelo seu brilhante trabalho. Beijos Prima Vera.

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