quarta-feira, 2 de novembro de 2016

VERA LÚCIA DE ANGELIS - PROFESSOR

Professor
Ele tinha a voz de trovão e o poder da sedução. Conseguia encantar uma classe de 40 mulheres com a magia da ciência e da simpatia. Não tinha atrativos: magro, calvo e de nariz acentuado. Um toque de sex appeal, talvez. Porém despertava paixões e suspiros.
Fazia de sua aula uma aventura pelo aprendizado. Sabia prender a atenção como ninguém sem ser sério demais ou autoritário. Fazia piada até com prováveis deslizes:
 - Professor, o senhor escreveu errado.
 - Muito bem, turma. Queria ver se estavam prestando atenção.
E a gargalhada geral se espalhava pela classe da escola estadual. Saíam de lá e a aula continuava na lembrança. O cimento na calçada separado por espaço ou madeira: - Com o calor o cimento dilata e precisa de espaço.
 A irmã mais velha estudando magistério se espantava: - Que método genial e eficiente esse professor tem.
Chegou o dia de festa para mães. Cada classe escolheu um patrono para ser homenageado. Dessa vez suas progenitoras conheceriam o professor tão querido. No caminho de volta para casa um dia antes ela comprou um presente para dar a ele, com dinheiro que a classe juntou. Na lojinha pequena e famosa de dona Ivone – uma bússola em caixinha de veludo e tudo. Afinal não se dizia ele um piloto de avião? Certamente teria que se guiar sempre. Antes da festa, na sala de aula, forraram o quadro negro com fotos da cantora Wanderléa de quem ele se dizia fã. Volta e meia a ídola participando da aula. Quem sabe no contexto de teatro que ele criava para chamar a atenção das alunas.
Tudo pronto para o homenageado chegar e a expectativa correndo solta nos sorrisos e suspiros de alegria.
Eis que chega a diretora para acabar com a festa.
- O professor Cláudio sofreu um pequeno acidente. Nada grave, mas infelizmente não virá para a festa.
Murmúrios de preocupação e até lágrimas.
Não foi dessa vez que as mães das alunas puderam conhecer seu ídolo e professor.
Dias depois ele chegou par dar aula. Pequeno curativo sobre a sobrancelha esquerda contando que estava na avenida preferencial, mas a motorista de um DKV, vindo da transversal não o viu e com ele colidiu.
Entregaram o presente sem nunca esquecer a frustração por não ter lhe prestado a homenagem tão ensaiada no dia da festa.
A história não segue muito longe porque a memória termina aqui.
Ilustrando o efeito das aulas desse professor vale citar a pequena história de uma das alunas que tirou uma nota zero em sua prova. Para ela que nunca tirava nota vermelha e tirar a nota mínima na matéria que mais amava e sabia foi quase como a morte, na expectativa de uma adolescente em casa chorou tanto que borrou parte dos exercícios e gráficos feitos à caneta hidrográfica, talvez tinteiro.
Após conselho da mãe foi consultar o equivocado mestre que pediu desculpas e aplicou a nota verdadeira: 09h25min. Guardou as lágrimas e a prova desbotada como lembrança.
A paixão sim continuou por anos no aprendizado e em cada avião monomotor que alguns olhos observavam imaginando o professor de capacete de couro, tal qual o piloto do pequeno príncipe, voando em sua aventura extracurricular.
- A placa é PT alguma coisa, turma.
Todos tinham esse mesmo prefixo, mas todos eram admirados como a aula fantástica do professor de ciências.
Chegou o dia de festa para mães. Cada classe escolheu um patrono para ser homenageado. Dessa vez suas progenitoras conheceriam o professor tão querido. No caminho de volta para casa um dia antes ela comprou um presente para dar a ele, com dinheiro que a classe juntou. Na lojinha pequena e famosa de dona Ivone – uma bússola em caixinha de veludo e tudo. Afinal não se dizia ele um piloto de avião? Certamente teria que se guiar sempre. Antes da festa, na sala de aula, forraram o quadro negro com fotos da cantora Wanderléa de quem ele se dizia fã. Volta e meia a lembrança da cantora participando da aula. Quem sabe no contexto de teatro que ele criava para chamar a atenção das alunas.
Tudo pronto para o homenageado chegar e a expectativa correndo solta nos sorrisos e suspiros de alegria.
Eis que chega a diretora para acabar com a festa.
- O professor Cláudio sofreu um pequeno acidente. Nada grave, mas infelizmente não virá para a festa.
Murmúrios de preocupação e até lágrimas.
Não foi dessa vez que as mães das alunas puderam conhecer seu ídolo e professor.
Dias depois ele chegou par dar aula. Pequeno curativo sobre a sobrancelha esquerda contando que estava na avenida preferencial, mas a motorista de um DKV, vindo da transversal não o viu e com ele colidiu.
Entregaram o presente sem nunca esquecer a frustração por não ter lhe prestado a homenagem tão ensaiada no dia da festa.
A história não segue muito longe porque a memória termina aqui.
A paixão sim continuou por anos no aprendizado e em cada avião monomotor que alguns olhos observavam imaginando o professor de capacete de couro, tal qual o piloto do “Pequeno Príncipe”, voando em sua aventura extracurricular.
- A placa é PT alguma coisa, turma.
Todos tinham esse mesmo prefixo, mas todos eram admirados como a aula fantástica do professor de ciências.
Anos depois surgiu um boato que ele era uma farsa e por isso fora demitido.
Fosse professor, piloto ou fã de Wanderleia, de verdade, não se sabe. O fato é que eficiência não faltou para prender a atenção dos alunos e despertar em muitos deles a observação científica ou quem sabe uma profissão parecida no esporte, na música etc.
A propósito, a aluna citada sou eu, evidentemente.
O professor Cláudio José Peclat Saldanha Linhares, pomposo e criativo até no nome.
A escola EE prof. Jácomo Stavale, no bairro Freguesia do Ó, zona norte da capital- SP


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