quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A ilimitada riqueza - por José C. M. Navarro


Cada um à sua crença, à sua vontade, ao seu ritmo, é filho de Deus.
A alguns a riqueza incomensurável de castelos e tesouros é bastante; para outros, livros ou taças de vinhos são suficientes a outros, nem isso é necessário.
Cada um, ao seu ritmo, sua vontade ou sua crença tem sua riqueza, finita ou não.
O que é inerente e pertencente a todos, porém, é que existe uma ilimitada riqueza que dispensa castelos, livros ou vinhos, que dispensa todo o material que nos envolve.
Falemos desta riqueza, portanto.
Não me é apropriado falar de outrem, seja bem ou, principalmente, sendo mal. Faço meu caminho o mais discreto possível, dentro da felicidade e facilidade que me é outorgada.
Pouca riqueza material preciso. Tenho abrigo, comida e afeto. Amigos, meus entes queridos, alguns livros, uma ou outra taça de vinho, intensos os livros, saborosos os vinhos, infinitos gestos queridos. Pessoas, vinhos e livros como sempre sonhei, por perto todos, embora talvez nem sempre os mereça.
Tenho tanto a escrever e outros versos a declamar.  Há muito, ainda a se contar. Não vou incomodar, ou agradar, que seja, porém a gregos ou troianos, pois não os externarei ao extremo. Deixo-os apenas aos convites e apelos de tão poucos amigos que se dispuserem a tal benevolência e que de antemão conhecem o que faço e o que fiz.
Aos não tão amigos, se um dia, foram brilhantes como o rei sol, noutros viraram estrelas, mais frias e distantes, depois obscuros planetas para chegaram a simples asteroides, tão estéreis quanto inúteis, sem sequer algum baobá como diria Saint Exupery, passo ao largo. Que fiquem em seu habitat e se deslumbrem com os meios que encontram para chegar ao seu próprio fim. Vivam em seu mundo.
Por mim, fico com o razoável material, mas, sobretudo, usufruo do  imenso imaterial que me foi outorgado.
O aplauso é um gesto posterior. O apupo também. Ambos vêm depois da ação, e bem distante do pensamento inicial. Somos todos, não metamorfoses ambulantes como disse Raul, mas sim, pensamentos em constante mutação, pensamentos estes que resultam em projetos, destes em ações e que por fim geram ora as lágrimas ora os vivas. Somos o que imaginamos ser e este desejo real nos leva à efetiva riqueza. E por aí vamos. Apupos ou aplausos, muito valem, mas são apenas guias que nos levam a aceitar ou rejeitar o ato de (re)pensar em si em um momento futuro. O aplauso não deve iludir, o apupo nunca matar, que sejam guias para os próximos pensamentos, só.
Nossa liberdade não está na caminhada. Não só nela. No pensar sim.
Esta é nossa ilimitada riqueza, minha e sua, não ignoremos isso.
Está no ato que nos fez caminhar, no sonho, no projeto, na elaboração e, ou principalmente, (e originariamente) no pensamento, reforço isso.
Livres somos para buscar as estradas que nos levam ao destino final ou ao nada descabido; livres para externar amor ao próximo e dedicar alguns momentos de raiva a quem os merecer; livre somos ao estender a mão, seja para dar, seja para pedir; livres para chorar o leite derramado ou o externar o amor desenfreado.
Sou eu, particular e intensamente rico para exercer o livre pensamento ao (buscar) elaborar alegorias fellinianas ou imitar chaplinianas caricaturas, sem ser Fellini, muito menos Chaplin; sou livre em apenas cantar meus versos ou declamar meus poemas, em lutar e concretizar meus pensamentos, em amar e, agraciado em ser amado.
E, mais ainda, livre para externar o sim e reclamar o não, ou exigir o sim e rebuscar o não; para existir e não simplesmente viver; para efetivamente ser e não apenas estar.
Lastimo, (apenas lastimo), não julgo de quem se vale de sentimentos alheios e os toma para si como mote perpétuo para seu pensamento, para sua existência.
A liberdade do pensamento é o veículo que nos conduz à perfeição em elaboração. Nunca chegaremos àquela, mas estamos sempre caminhando nesta.
Com incredulidade, São Tomé duvidou e externou:
                       “Quero ver para crer”.
Longe Dele, em distância, sapiência e santidade, dentro da liberdade de pensamento que me foi outorgada pela Misericórdia Divina, com o molde de que fui feito, ouso modificar e reformar a mesma frase e dizer no mesmo tom, com a mesma liberdade, certa ou errada, bonita ou feia, real ou fantasiosa, concreta ou abstrata, aceita ou não, mas eu a proferiria alterando a ordem das palavras e ela, na verdade, seria na origem do meu livre pensamento:
                      “Quero crer para ver”. 
Com toda essência, propriedade, perfeição e riqueza que meu livre pensamento me outorgou.

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