OS MONSTROS NÃO TIRAM FÉRIAS
Os monstros não tiram férias. Ficam aguardando
nos porões do mistério que as crianças cheguem atravessando o portão com toda
sua energia e imaginação. A algazarra toma conta do casarão antigo onde vivem
os avós. O assoalho range sob os pés dos pequeninos que saltitam na sala e nos
quartos. Tudo é festa. Gritinhos de satisfação inundando o ambiente. Até os
netos da casa ao lado que raramente, visitam os avós aparecem para brincar.
A ansiedade está no ar. Tudo é novidade. Mesmo o que já cansaram de ver nas
visitas de domingo.
Penduram-se na rotina do avô seguindo- o em suas atividades. Ele é
rígido, disciplinado, mas se encanta com os netos. Deixa que corram pela
horta, que toquem as folhas e colham até as cenouras. São como caixas de
surpresa. As folhas tem que estar velhas para se saber se é hora da colheita.
Acaba gerando a competição de saber quem vai colher a maior.
- A minha é magrinha, vovô - lamenta a netinha.
- Nem todas vingam. É a vida. - filosofa o avô.
Mas eles, os monstros. esperam que a noite chegue e as crianças se dispam da
empolgação para assombrá-los. Mas são eles que se espantam pela maneira como os
pequenos se entregam ao sono, tirando-lhes a oportunidade de cumprir com sua
sina de assombrá-los. O sono dos justos que brincaram e saltitaram o dia
inteiro com tanto espaço para percorrer, o que não é comum na rotina da vida em
apartamento de cidade grande.
Somente a caçula da turma cobre a cabeça com medo do escuro. Nessas horas falta a mãe. Será que nunca mais vou enxergar. Que algo vai acontecer com a mãe por estar distante dela? Consegue um espaço na cama dos avós e se ajeita entre eles, falando aos cotovelos para que a noite passe depressa. Mas o dia será longo para todos. Os avós são taxativos: é hora de dormir e pronto.
Somente a caçula da turma cobre a cabeça com medo do escuro. Nessas horas falta a mãe. Será que nunca mais vou enxergar. Que algo vai acontecer com a mãe por estar distante dela? Consegue um espaço na cama dos avós e se ajeita entre eles, falando aos cotovelos para que a noite passe depressa. Mas o dia será longo para todos. Os avós são taxativos: é hora de dormir e pronto.
E todos dormem, menos os monstros que não tiram férias e nunca descansam,
frustrados talvez de não exercerem sua função, prontos que estão sempre para
amedontrar crianças e adultos sejam eles de realidade ou de imaginação. Da
infância à adolescência. Aos 30, 40, 50 ou a vida toda. Porque os
monstros são os nossos eternos medos que mudam de roupa ou de foco, mas que
estão sempre nos assombrando. Pois eles é que não tiram férias.
Vera Lúcia de Angelis
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