sexta-feira, 23 de outubro de 2015

MUDANÇAS - NEIDE MARIA GOTARDO NALLIN

MUDANÇAS


Comparo minha infância e a ânsia de crescer.
Pés descalços num chão que hoje não é o mesmo.
É mais frio, ladrilhado, esquecido
das crianças no pula corda, no esconde-esconde.
Onde estão as crianças que fomos?
Não há resposta. Pela vida passamos.
Não fomos. Éramos.
Outros pés, outras mãos, outros sonhos.
Tudo mudou. As crianças,
a rua, o chão de terra, as esperanças.
Eu mudei. Minha pele, minha memória.
No meu rosto não resta nem a máscara do passado,
apressado e corriqueiro como a água que passa pelo rio.
Há substituição na maneira de ver a vida,
só preocupação em mostrar identidade.
Construir, possuir, a todo custo.
Esquecer a fidelidade na pressa de viver.
A falsa idoneidade não deixa liberdade.
A vida se esvai como relâmpago que corta a tempestade.
O esqueleto não se sente tão firme,
Sente falta de correr pelos campos de braços abertos,
Pisando a relva úmida, imitando o voo dos pássaros.

Olho para trás e vejo o quanto mudamos.


Neide Maria Gotardo Nallin

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